LIGUE O SOM

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

A Ilha


Do voo perfeito fui ejetado subitamente. Me lançaram num espaço de silêncios e incertezas. Calmamente em queda pendular. Ora lá, ora cá. Oscilando entre o bem e o necessário. Tendo certeza apenas da brisa que me conduz. E assim, perpendicular vou chegando ao que há muito almejei. Sonhador e positivista.

Caio sem perceber numa ilha de sentidos e sentimentos. Como era antes. Com a mesma vegetação árida de antes. Com os mesmos bichos enfurecidos. E, em círculos, me pego fugindo disso. Pulo na água para tentar uma fuga, mas não importa o quanto nade pra longe, a maré sempre me devolve para a ilha.

Em alguns lapsos de pensamento me vejo como um enorme pássaro, de asas longas. E me levo a outros horizontes. Lugares, pessoas, objetos. Tudo tão diferente... Mas o voo é rápido e como num susto volto à realidade. Aos círculos cansativos da areia. Olho para cima. Para o céu azul, que não faz muito tempo, me trouxe até aqui. Poucas nuvens brancas. Um sol estatelante. Saudade.

Volto. Pego uma pedra e ponho n'água. Sequencial, faço isso várias outras vezes em direção ao horizonte distante. Inicio a construção da ponte que me liga a liberdade, sem me preocupar com o tempo que isso venha a levar. Uma dificuldade que dá forças para continuar.

Quando a noite chega é hora de descanso. Paro para apreciar a lua que sempre muda suas formas. Branca e brilhante. Voluptuosa. Aguça-me os desejos carnais. Rememora as súplicas de carícias. Aquece o corpo. Os olhos apertam para aproximar e quase toco a pele. Vem então a frustração. Olho novamente para o céu com a lua distante e com aquela imensidão de possibilidades. Com certa raiva pego mais uma pedra e vou, de novo, adentrar a noite na construção de minha fuga.

Ainda falta ainda.

Ao som: O que se quer - Marisa Monte e Rodrigo Amarante